Deise da Silva: A verdadeira revolução acontecerá com políticas públicas
* Deise da Silva é pedagoga especialista em Psicopedagogia e coordenadora de Educação Infantil do Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria
O dia das mulheres foi oficializado como dia 08 de março pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1975, mas os movimentos pelos direitos feministas tiveram seu engajamento antes disso, compreendendo os séculos XIX e XX. As mulheres se uniram por melhores condições de trabalho em fábricas, que na época era ainda pior que as condições precárias que os homens tinham. Atualmente a data é lembrada pela reivindicação de igualdade de gênero em movimentos no mundo todo.
No século XX diversos movimentos das mulheres foram registrados mundialmente, protestando pelo direito de votar e por melhores condições de trabalho. As fábricas chegavam a manter seus trabalhadores em serviço 16 horas por dia durante 6 dias na semana. Além disso, não podemos descartar o fato de que além da rotina exaustiva de trabalho, as mulheres ainda contavam com um lar e filhos para cuidar. As mulheres negras também se organizavam para lutar por direito de seus corpos e suas vidas resistindo a escravidão.
Atualmente ainda travamos lutas, e a igualdade de gênero é a principal. Homens e mulheres exercendo a mesma função recebem salários diferentes, sendo que o nosso chega a ser até 22% menor do que o deles.
A luta feminista teve retrocessos nos últimos tempos, a pandemia de Covid- 19 aliada a crise econômica afetou mais as mulheres, sabendo-se que a maioria de nós recebe menos, chefiamos lares e infelizmente ocupamos em maior parte o mercado informal de trabalho. Para além de questões salariais, as lutas feministas são diversas, e por incrível que pareça ainda acumula retrocessos no que se refere aos direitos básicos das mulheres em vários lugares pelo mundo. A volta do Talibã no Afeganistão, por exemplo, acabou com a liberdade de muitas mulheres inclusive na vestimenta, além de outros direitos como viajar, dirigir ou frequentar espaços educacionais. O crescimento da extrema direita conservadora também contribui para a opressão das mulheres, que muitas vezes estão presas em casa com seus abusadores, cercadas de afazeres domésticos, sem ter seus direitos reprodutivos respeitados e vítimas de uma posição conservadora que muitas vezes impede o divórcio prezando pela reconciliação do casal. No Brasil, a cada 24 horas uma de nós é vítima de feminicídio, além do crescimento da violência contra a mulher negra e a mulher trans.
Diante de tantos retrocessos, também podemos comemorar avanços na luta feminista, principalmente no que diz respeito à discussão de pautas como maternidade, carreira, aborto e violência contra a mulher. Infelizmente a representatividade parlamentar feminina ainda é baixa, o que afeta diretamente a construção de políticas públicas que considerem as questões do movimento feminista.
O dia internacional das mulheres é um dia de luta. Se você é mulher, mãe, filha, negra, indígena, LGBTQIA+, trabalhadora, é um dia para lembrar que sobrevivemos a um governo que tentou nos matar todos os dias. Não queremos comemorações, presentes e esmolas, nós queremos políticas públicas que nos representem!