Celma Pietczak: Greve ambiental e defesa da vida
*Celma Pietczak, coordenadora de Comunicação e Formação Sindical do Sindicato dos Professores Municipais de Santa Maria
Há meses, a volta às atividades presenciais nas escolas tem gerado debate. Os argumentos, tanto de quem defende a volta presencial quanto dos que afirmam não ser o momento para isso, já foram propagados, confrontados e amplamente discutidos. No que diz respeito aos professores que defendem que este não é o momento para a volta presencial, não lhes falta clareza sobre os desafios e dificuldades do ensino remoto, uma vez que vivem essa realidade há mais de um ano enfrentando, com os estudantes e as famílias, os diferentes problemas apresentados, desde as adaptações necessárias para o ensino remoto à falta de investimento em educação que acarreta a ausência da estrutura adequada para seu melhor desenvolvimento. Ocorre que, mesmo reconhecendo essas dificuldades, sabem também que os riscos a que a comunidade escolar estaria exposta, num momento tão grave da pandemia, são ainda mais graves.
Vivemos, em Santa Maria, a realidade da alta taxa de ocupação dos leitos, tanto clínicos como de UTI, assim como altos índices de contaminação pela Covid-19. Os óbitos há tempos deixaram de ser um número ou um nome para se tornarem rostos conhecidos, familiares. Paralelamente a isso, a vacinação avança muito lentamente não garantindo a ampla imunização da comunidade. Mesmo diante dessa realidade, o retorno às aulas presenciais foi autorizado a partir da mudança, por força de decreto do Governador, da bandeira preta no modelo de distanciamento social para a vermelha. Na Rede Municipal, esse retorno ocorreria a partir do dia 18 de maio.
Considerando a gravidade do momento da pandemia e a falta de condições para cumprimento dos protocolos e dos planos de contingenciamento, os professores municipais decidiram, em assembleia, pela realização de uma greve ambiental. Ela é um instrumento constitucional a que os trabalhadores têm direito quando o ambiente de trabalho oferece condições que ameaçam a saúde e/ou a vida. Diferente de outras greves que conhecemos, a greve ambiental não prevê a suspensão do trabalho. Pelo contrário, os professores municipais seguirão desenvolvendo suas atividades, como têm feito até agora, garantindo a manutenção do ensino remoto, tanto com as atividades online quanto com a entrega de material físico nas escolas.
A greve ambiental, ou sanitária como também é chamada, se constitui, assim, em um movimento em defesa da vida. O retorno às atividades presenciais é necessário e deve ocorrer quando houver segurança para isso. Neste momento, necessária e essencial é a defesa da saúde e da vida.